À medida que os efeitos das mudanças climáticas se intensificam, um novo fenômeno psicológico surge: a ansiedade climática. Esse termo descreve a preocupação e o estresse emocional associados ao colapso ambiental global, mesmo entre indivíduos que não estejam vivenciando diretamente suas consequências mais extremas.
Uma ameaça silenciosa
Diferentemente dos transtornos desencadeados por desastres climáticos específicos, como o estresse pós-traumático, a ansiedade climática pode afetar qualquer pessoa consciente das mudanças ambientais em curso. Esse fator amplia significativamente seu alcance, tornando-a uma ameaça silenciosa à saúde mental em escala global.
Países de baixa renda em risco
Embora a ansiedade climática possa afetar pessoas de todas as regiões, ela ocorre com mais frequência em países de baixa renda localizados em áreas diretamente impactadas pelas alterações climáticas. Nesses locais, a preocupação com o futuro é exacerbada pela exposição imediata aos efeitos devastadores do colapso ambiental.
Enquanto a ansiedade climática sintetiza a sensação de apreensão diante das mudanças ambientais, ela não é a única emoção negativa associada a esse fenômeno. Desesperança, raiva e tristeza também são comuns nesse contexto, refletindo a complexidade emocional envolvida.
O impacto na saúde mental
Apesar do crescente reconhecimento da ansiedade climática, ainda há muito a ser explorado sobre seus potenciais efeitos na saúde mental. No entanto, é evidente que essa preocupação constante pode levar a consequências psicológicas significativas, especialmente se não for devidamente abordada.
Jovens: os mais vulneráveis
Estudos indicam que a ansiedade climática é mais prevalente entre os jovens, uma vez que esse grupo etário tende a estar mais consciente e preocupado com as mudanças climáticas. Além disso, os jovens são os mais ameaçados pelas consequências futuras desse fenômeno.
Dados alarmantes
Uma pesquisa realizada pela Associação Americana de Psiquiatria em 2020 revelou que 67% dos jovens entre 18 e 23 anos se sentem ansiosos com o impacto das mudanças climáticas na sua saúde mental. Esse número é superior ao observado em outras faixas etárias, como 63% entre 24 e 39 anos, 58% entre 40 e 55 anos e 42% entre 56 e 74 anos.
As raízes da ansiedade climática
Os motivos por trás do impacto das mudanças climáticas na saúde mental são diversos, incluindo a perda de identidade e enraizamento para os refugiados climáticos, o luto pela perda de lugares e coisas valiosas, bem como o receio sobre o futuro incerto.
Uma ameaça peculiar
Alguns atributos das mudanças climáticas contribuem para torná-las um estressor único. Elas representam uma ameaça concreta, estão em constante evolução, dificultando a adaptação completa, e são imprevisíveis, fatores que tendem a desencadear mais ansiedade do que medo.
A paralisia ecológica
A sensação de incerteza, um elemento fundamental da ansiedade climática, pode se expressar como um desespero paralisante, denominado “eco-paralisia”. Diante de um problema tão grande e aparentemente incontrolável a nível individual, pode ser difícil vislumbrar alternativas para lidar com a situação.
O equilíbrio entre preocupação e esperança
Contudo, é essencial balancear as legítimas inquietações sobre a catástrofe ambiental com a esperança necessária para administrar e vencer seus obstáculos. Enquanto a desesperança, o desespero e a impotência estão associados a piores resultados de saúde mental, a esperança e o senso de propósito parecem ser protetores do bem-estar.
Ações pró-ambientais como estratégia de enfrentamento
Neste cenário, pesquisas indicam que a participação em comportamentos e ações favoráveis ao meio ambiente pode ser uma tática eficaz para enfrentar a ansiedade climática. Ao tomar medidas concretas para diminuir os impactos das mudanças climáticas, os indivíduos podem sentir um senso renovado de controle e propósito.
Benefícios adicionais
As medidas pró-ambientais, além de auxiliarem na diminuição da ansiedade climática, também auxiliam na conservação do meio ambiente, gerando um ciclo positivo de vantagens para a saúde mental e o planeta.
Evitando a patologização
É importante evitar patologizar as respostas emocionais às mudanças climáticas, estabelecendo um equilíbrio entre reconhecer situações em que a preocupação é intensa e contribui para transtornos mentais, e não se afastar das origens do problema e das ações coletivas imprescindíveis.
O papel dos profissionais de saúde mental
Os especialistas em saúde mental devem estar informados sobre a presença da ansiedade climática, para poderem oferecer suporte e ferramentas de superação àqueles que enfrentam essa circunstância. Contudo, é pouco provável que medidas para salvaguardar a saúde mental individual sejam totalmente efetivas sem a devida atenção social ao tema.