A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um alerta sobre a falsificação do medicamento Ozempic, um fármaco amplamente utilizado no tratamento de diabete tipo 2 e, mais recentemente, para perda de peso. Este aviso surge após a farmacêutica Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, comunicar à agência sobre casos de adulteração do produto em diversas cidades brasileiras. A situação é alarmante e requer atenção imediata de profissionais de saúde, pacientes e consumidores em geral.
O Ozempic, cujo princípio ativo é a semaglutida, tornou-se popular não apenas por sua eficácia no controle da glicemia, mas também por seus efeitos na redução de peso. No entanto, essa popularidade parece ter atraído a atenção de falsificadores, que estão colocando em risco a saúde de milhares de pessoas. A fraude envolve a substituição do conteúdo original por insulina, utilizando rótulos autênticos do Ozempic em canetas de insulina.
A seguir, saiba como identificar o Ozempic falsificado, os riscos associados ao uso de produtos adulterados e as medidas que estão sendo tomadas pelas autoridades para combater essa prática ilegal.
O que é o Ozempic e por que está sendo falsificado?
O Ozempic é um medicamento injetável que contém semaglutida, um análogo do GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon-1). Inicialmente aprovado para o tratamento de diabete tipo 2, o fármaco ganhou importância por seu efeito colateral de perda de peso. Esta característica levou muitos médicos a prescreverem o Ozempic off-label para pacientes que buscam emagrecer, mesmo sem diagnóstico de diabete.
A crescente demanda pelo Ozempic, impulsionada tanto por pacientes diabéticos quanto por aqueles que buscam perder peso, criou um mercado atraente para falsificadores. Estes indivíduos veem uma oportunidade de lucro ao produzir versões adulteradas do medicamento, aproveitando-se da alta procura e do elevado preço do produto original.
A falsificação de medicamentos é um problema global que afeta diversos fármacos, mas a situação do Ozempic é particularmente preocupante devido aos riscos específicos associados à substituição do princípio ativo por insulina. Esta troca pode ter consequências graves para a saúde dos usuários, especialmente aqueles que não têm diabete e não estão habituados ao uso de insulina.
Detalhes da adulteração descoberta pela Anvisa
A Anvisa recebeu um comunicado da Novo Nordisk relatando indícios de que canetas de insulina Fiasp FlexTouch estavam sendo readesivadas e reaproveitadas com rótulos de Ozempic. O lote específico mencionado no alerta é o NP5K174, embora seja possível que outros lotes também tenham sido afetados.
A fraude envolve um processo sofisticado de remoção dos rótulos originais de canetas de Ozempic e sua aplicação em canetas de insulina. Este método de falsificação é particularmente perigoso, pois utiliza componentes genuínos (os rótulos), tornando a detecção mais difícil para o consumidor comum.
As cidades onde foram detectados casos de falsificação incluem:
- Rio de Janeiro–RJ
- Brasília–DF
- Anápolis–GO
- Curitiba–PR
- Belo Horizonte–MG
- Paty do Alferes–RJ
É importante ressaltar que, embora esses sejam os locais identificados até o momento, a distribuição de produtos falsificados pode ser mais ampla, atingindo potencialmente outras regiões do país.
Riscos à saúde associados ao uso de Ozempic falsificado
A substituição do Ozempic por insulina em produtos falsificados representa um grande risco à saúde dos usuários. A insulina é um hormônio potente que regula os níveis de glicose no sangue e seu uso inadequado pode levar a complicações graves, especialmente em indivíduos que não têm diabete.
Alguns dos riscos associados ao uso inadvertido de insulina incluem:
- Hipoglicemia severa: níveis perigosamente baixos de açúcar no sangue, que podem causar confusão, perda de consciência e, em casos extremos, coma ou morte.
- Reações alérgicas: algumas pessoas podem desenvolver reações alérgicas à insulina, variando de leves a potencialmente fatais.
- Alterações metabólicas: o uso não supervisionado de insulina pode causar desequilíbrios metabólicos significativos.
- Efeitos cardiovasculares: a hipoglicemia causada pelo uso inadequado de insulina pode aumentar o risco de eventos cardiovasculares em pessoas predispostas.
- Complicações neurológicas: episódios recorrentes de hipoglicemia podem levar a danos neurológicos a longo prazo.
Já houve relatos de pacientes que necessitaram de atendimento médico de emergência após a administração de versões falsificadas do Ozempic. Em um caso no Rio de Janeiro, um paciente precisou ser hospitalizado apenas 15 minutos após aplicar o produto adulterado, demonstrando a rapidez com que as complicações podem se manifestar.
Como identificar o Ozempic falsificado
Para ajudar os consumidores a identificar possíveis falsificações, a Anvisa, em colaboração com a Novo Nordisk, divulgou um guia com características dos medicamentos originais e dos falsificados. Aqui estão os principais pontos a serem observados:
- Aparência da caneta:
- Original: cor azul clara com botão de aplicação cinza.
- Falsificada: possivelmente azul escura com botão laranja (característica das canetas de insulina Fiasp).
- Embalagem:
- Original: íntegra, sem rasuras, em português, com informações corretas sobre o produto.
- Falsificada: pode apresentar rasuras, estar em idioma estrangeiro ou conter informações incorretas.
- Apresentação:
- Original: ozempic 1mg é vendido apenas em canetas pré-preenchidas injetáveis.
- Falsificada: pode apresentar forma farmacêutica diferente da registrada.
- Preço:
- Original: preço condizente com o mercado regular de farmácias e drogarias.
- Falsificada: preços significativamente abaixo do mercado.
- Informações adicionais:
- Original: não há menção a “nova fórmula” ou informações semelhantes.
- Falsificada: pode conter adesivos ou indicações de “nova fórmula”.
- Seletor de dose:
- Original: canetas de Ozempic 1mg têm apenas as numerações 0mg e 1mg no seletor de dose.
- Falsificada: pode apresentar numerações diferentes no seletor de dose.
É fundamental que os consumidores estejam atentos a esses detalhes ao adquirir o medicamento. Qualquer suspeita de irregularidade deve ser imediatamente reportada às autoridades competentes.