A discussão sobre psicopatia em crianças levanta questões complexas, tanto éticas quanto científicas. Embora o termo “psicopatia” não seja aplicado a menores de 18 anos, existe um transtorno similar denominado “transtorno de conduta” que pode se manifestar já na infância e adolescência. Abaixo, entenda como essa condição se manifesta, o impacto a longo prazo e as formas de tratamento.
1. Psicopatia vs. transtorno de conduta
Na psiquiatria, crianças não são classificadas como psicopatas. O transtorno de conduta é o diagnóstico aplicado a jovens com comportamento repetidamente antissocial, desrespeito às regras e insensibilidade às emoções alheias. Esse transtorno é visto como precursor do transtorno de personalidade antissocial, diagnóstico realizado apenas em adultos.
Características do transtorno de conduta
O transtorno de conduta inclui agressividade, mentiras frequentes, falta de empatia, e desobediência a normas. Crianças com esse transtorno geralmente não se sentem punidas ou não modificam seu comportamento após repreensões, o que contribui para um padrão crescente de insensibilidade e impulsividade.
2. Sinais de alerta na infância
Alguns sinais de que uma criança pode estar desenvolvendo o transtorno incluem a falta de medo em situações de perigo, desrespeito frequente a limites e regras, e agressão repetida a outros. Estes sintomas podem aparecer logo aos 5 ou 6 anos, mas é importante que o diagnóstico seja feito com cautela, já que muitos comportamentos podem ser comuns em determinadas idades.
O destemor e a insensibilidade
Uma característica recorrente entre crianças com esse transtorno é o destemor. Elas frequentemente não demonstram medo diante de repreensões e continuam com comportamentos inadequados mesmo após punições. A falta de sensibilidade emocional também é comum, o que pode dificultar a formação de laços afetivos.
3. Psicopatia na vida adulta
Embora o transtorno de conduta possa ser um fator de risco para o desenvolvimento de psicopatia na vida adulta, nem todas as crianças diagnosticadas com esse transtorno se tornam psicopatas. A psicopatia afeta cerca de 1% da população, e mesmo dentro do sistema penal, sua prevalência é de cerca de 25%. Isso significa que o transtorno de conduta não prediz, necessariamente, o comportamento futuro.
Diagnóstico e avaliação
Para adultos, o diagnóstico de psicopatia utiliza ferramentas como a Lista Revisada de Psicopatia de Hare, que avalia características como eloquência, insensibilidade, impulsividade e comportamento antissocial. Em crianças, o foco está no comportamento social inadequado e na ausência de sensibilidade emocional.
4. Tratamento e intervenções precoces
O tratamento do transtorno de conduta geralmente envolve a família e é realizado por meio de terapias comportamentais. O objetivo é ajudar os pais a estabelecer limites e orientar o comportamento da criança, reduzindo os comportamentos inadequados. A terapia multissistêmica, por exemplo, envolve não apenas a família, mas também a comunidade em que a criança está inserida.
Treinamento parental
Uma das abordagens mais eficazes é o “treinamento de gerenciamento parental”, que visa capacitar os pais a lidarem melhor com os desafios que envolvem criar uma criança com transtorno de conduta. A ideia é fornecer habilidades específicas para ajudar a regular o comportamento da criança e desenvolver a empatia e sensibilidade necessárias.
5. Prevenção de psicopatia
Intervenções precoces são a chave para evitar o agravamento do transtorno de conduta e reduzir as chances de desenvolvimento de psicopatia na vida adulta. Terapias comportamentais, aliadas ao apoio familiar, podem transformar o comportamento das crianças e evitar o estigma social que muitas vezes acompanha o diagnóstico.
Embora o diagnóstico de psicopatia não seja aplicado a crianças, o transtorno de conduta é um fator de risco que precisa ser acompanhado de perto. As intervenções precoces são essenciais para modificar padrões de comportamento e proporcionar às crianças uma vida saudável e equilibrada. Com o suporte adequado, muitas delas podem superar esses desafios e desenvolver comportamentos sociais mais saudáveis.